B32_4071
No meio de dois arco-íris
Vista do vale desde a varanda da minha casa. O arco-íris aponta a localização aproximada das câmeras de captura digital, a pouco mais de um km, no meio do vale, entre as duas serras laterais. Temos aqui um ecossistema de floresta primária de terra firme, mais caraterizado como uma cabeceira de rio. O rio Punã, nasce no fundo do vale, alimentado por nascentes que despejam no mesmo desde as duas serras laterais. O rio Punã faz parte da bacia do Uatumã que, por sua vez, despeja no rio Amazonas.
Em 7 de Julho de 2007, nem imaginava que no meio daqueles dois arcos de luz, teria uma grande experiência de vida. É ali que eu instalaria câmeras de captura digital com sensores de movimento… Em 2018, iniciou o monitoramento de onças, bem no meio daqueles dois arco-íris.
B32_4071 – Leonide Principe
Equipment: NIKON D200 with lens AF Zoom 12-24mm f/4G set at 24 mm – Exposition: ISO: 100 – Aperture: 6.3 – Shutter: 1/160 – Program: Normal – Exp. Comp.: -0.7,
Original digital capture of a real life scene –
Original file size: 3904px x 2616px
Location: Abra144 (Presidente Figueiredo – Amazonas Brazil)
Date: July 7, 2007 – Time: 5:13:45 PM
Collection: Tropical Rain Forest – Persons shown: none
Keywords:
Abra144, Presidente Figueiredo, Amazonas, Amazônia, Amazon, Amazonian, Brazil, Brasil, Brazilian, América do Sul, South America, floresta tropical úmida, rain forest, rainforest, Tropical Rain Forest, paisagens, landscapes, arco-irís, rainbow
EN(Digital) In the middle of two rainbows B32_4071
PT(Digital) No meio de dois arco-íris B32_4071
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O por que do monitoramento
No topo da cadeia alimentar, os grandes felinos da Amazônia precisam de vastas áreas de circulação e caça abundante para se alimentar sendo, por isso, indicadores de um ecossistema equilibrado. Estar no topo da cadeia alimentar não quer dizer ter a vida fácil. As presas não estão esperando resignadas à chegada do predador. Muito pelo contrário. Elas são muito desconfiadas e hábeis nas artes de se salvar. Dificilmente um adulto saudável será capturado, apenas os de idade avançada ou filhotes, os inexpertos ou aleijados é que poderiam sucumbir. O predador, por sua vez, precisa ser paciente, planejar bem a sua aposta, pois se falhar, terá desperdiçado uma energia preciosa que fará falta na próxima caçada.
Porém, seus territórios estão sendo fragmentados e reduzidos pelo avanço da colonização humana, a qual também compete com os predadores nos recursos da caça. Os caçadores humanos competem e, ao mesmo tempo, temem a proximidade da onça, vivendo uma situação de conflito permanente que, no geral, resulta no abate dos felinos.
Como convencer o cabocloHá o caboclo de terra firme, mais dedicado à caça e agricultura, ele conhece e se movimenta com agilidade na floresta densa das terras altas. Há o ribeirinho que habita as beiras de rio, mais dedicado à pescaria e aos cultivos de curto prazo acompanhando o fluxo das águas. Pele parda, fruto de séculos de miscigenação entre os índios nativos e muitos outros povos – principalmente brasileiros do Nordeste, portugueses, bolivianos, peruanos, colombianos, sírios, libaneses e judeus – pioneiros da época anterior ao ciclo da borracha ou que tomaram parte no boom. Com o tempo, os caboclos absorveram a sabedoria milenar derivada de muitas etnias indígenas. sobre a possibilidade de poupar a vida de uma onça? Não é difícil entender que o morador da floresta não quer conversa com onça. Mudar essa hostilidade visceral numa compreensão mínima da importância de preservarem-se as espécies selvagens, todas elas, requer uma reorganização do território, entre outras coisas. As onças criam seu território farejando, o faro as guia e, quando a caça fica escassa, não há outra solução: a busca do alimento leva até as casas, aos cachorros, galinhas, bezerros e porcos. Estas são as mais fáceis presas disponíveis. Seres humanos também não podem facilitar, mas eles tem uma vantagem, eles são temidos. O instinto diz que já muitas onças caíram por mão humana, assim que a desconfiança prevalece. Mas, essa não é a palavra final. Com esse animal tudo é possível.
O monitoramento pode ser o primeiro passo para entender os hábitos, o território e a quantidade de caça na região. É desejável que o morador da floresta tenha essa habilidade amplificada de conhecer e viver em sintonia com o ambiente onde ele mora. Nenhum plano de preservação poderá dar certo sem essa colaboração generosa dos moradores. É uma questão cultural que vem tomando força pelo exemplo, pelo envolvimento da vizinhança, pela consulta das instituições de pesquisa. Monitorar felinos, e não somente felinos, monitorar o inteiro ecossistema é a prática imprescindível do aparato governamental, educacional e da sociedade como um todo. A relação com o ambiente natural sustenta-se por uma pesquisa científica mais aberta, ao alcance de todos. Monitorar é apenas o primeiro passo de uma conexão mais profunda, nutrida e empoderada pelos conhecimentos ancestrais dos povos nativos.
Aquela emoção que aflora ao vermos esses pequenos clips é o convite para entrar e ouvir o que dizem os grandes gatos: o território é grande o bastante para sua reprodução? Há alimento suficiente? Felinos saudáveis e livres são os indicadores de um ecossistema equilibrado.
Os grandes gatos são os guardiões de florestas íntegras e abrem as portas para uma quantidade inesgotável de recursos renováveis, garantem o clima, a biodiversidade e a água da vida. Por isso, precisamos de alianças, entre Norte e Sul, entre ciência e moradores, entre moradores e conhecimentos ancestrais, entre moradores… e gatos.Os valores ancestrais dessas terras ainda ecoam nas matas e é evidente que não se pode prescindir deles.
“Não somos os donos da natureza, somos apenas uma parte dela”. Sabedoria ancestral.

IP08_3858
Pegada de onça
Na beira do igarapé Punã, a onça pulou e deixou sua marca. O monitoramento não inclui apenas câmeras-armadilha, a exploração constante do territorio permite identificar acontecimentos que entram na análise geral e complementam o registro fotográfico.
IP08_3858 – Leonide Principe
Equipment: iPhone 7 with lens iPhone 7 back camera 3.99mm f/1.8 set at 4.0 mm – Exposition: ISO: 100 – Aperture: 1.8 – Shutter: 1/6 – Program: Normal – Exp. Comp.: 0.0,
Original digital capture of a real life scene –
Original file size: 1574px x 2100px
Location: Abra144 (Presidente Figueiredo – Amazonas Brazil)
Date: February 8, 2018 – Time: 3:59:37 PM
Collection: Feline Monitoring – Persons shown: none
Keywords:
felinos, cats, felids, Felinae, mamíferos, mammals, FAUNA, animals, Abra144, Presidente Figueiredo, Amazonas, Amazônia, Amazon, Amazonian, Brazil, Brasil, Brazilian, América do Sul, South America, monitoramento da fauna, fauna monitoring, Grade144, Grid144, PESQUISA, RESEARCH
EN(Digital) Jaguar Footprint IP08_3858
PT(Digital) Pegada de onça IP08_3858
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IP08_3859
Um autêntico mateiro
Raimundo indica o lugar onde a onça pulou.
Ele é um caboclo nativo da região, trabalhou comigo como mateiro e assistente na escalada de árvores durante muitos anos. Ele é um exímio caçador, inclusive de onça. Porém, desde que iniciamos o projeto de monitoramento, isso amansou de certo modo sua irredutível convicção de que a única conversa com onça é com espingarda. Eu sempre respeitei seu ponto vista e nunca tentei convencer do contrário, e reciprocamente. Quando algum incauto caçador, um morador ou um turista se perde na floresta, Raimundo é procurado para o resgate. E cumpre sua missão.
Certa vez numa excursão na floresta, ele mexeu entre as folhas secas e indicou os resto de um animal, um pedaço de pele com pelos, meio ensanguentado. “A onça pegou o caititu”, observou o homem da floresta. Dois dias depois, voltamos para a mesma área e, algumas centenas de metros mais distante do primeiro achado, Raimundo mexeu de novo nas folhas secas e revelou excrementos recentes e, havia pelos, os mesmos pelos da pele de caititu. “A mesma onça defecou aqui, ela ainda está por aqui e vai ficar até comer o caititu todo”. Suas frases são concisas e claras e descrevem a situação, sem sombra de dúvida. “Tem guariba nas árvores” ele diz. Eu respondo: “não estou ouvindo nada, como é que você sabe?”. “As guaribas ficam quietas e escondidas por causa de nós. Mas o cheiro das fezes não engana”.
Há tantas histórias como esta! Contadas ao longo da jornada, essas histórias compartilham aprendizagens marcantes dentro da floresta, deixando claro quão especial e urgente é a reconstrução de uma cultura amazônica, baseada sobre a saúde dos ecossistemas, sustentada pelo povos nativos, por biólogos, mateiros, extrativistas, fotógrafos e cinegrafistas, guias turísticos, escaladores de árvores… a reconstrução de uma civilização genuinamente amazônica, baseada sobre a saúde e a evolução dos ecossistemas.
IP08_3859 – Leonide Principe
Equipment: iPhone 7 with lens iPhone 7 back camera 3.99mm f/1.8 set at 4.0 mm – Exposition: ISO: 80 – Aperture: 1.8 – Shutter: 1/7 – Program: Normal – Exp. Comp.: 0.0,
Original digital capture of a real life scene –
Original file size: 3024px x 4032px
Location: Abra144 (Presidente Figueiredo – Amazonas Brazil)
Date: February 8, 2018 – Time: 4:05:33 PM
Collection: Jaguar Monitoring – Persons shown: Raimundo
Keywords:
felinos, cats, felids, Felinae, mamíferos, mammals, FAUNA, animals, Abra144, Presidente Figueiredo, Amazonas, Amazônia, Amazon, Amazonian, Brazil, Brasil, Brazilian, América do Sul, South America, monitoramento da fauna, fauna monitoring, Grade144, Grid144, PESQUISA, RESEARCH
EN3 An authentic woodsman IP08_3859
PT3 Um autentico mateiro IP08_3859
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Instalando câmera
Estudante de biologia, Eloise Feuillat é uma estagiária que veio da Bélgica num programa de voluntariado, auxiliou no projeto de monitoramento com muito entusiasmo durante três meses.
Na foto, ela testa uma câmera-armadilha na trilha principal. As câmeras que propiciaram melhores capturas foram aquelas das trilhas mais abertas, pois um caminho já aberto é o preferido das onças. A luz vermelha é o teste que prova o funcionamento do sensor.
IP08_4036 – Leonide Principe
Equipment: iPhone 7 with lens iPhone 7 back camera 3.99mm f/1.8 set at 4.0 mm – Exposition: ISO: 100 – Aperture: 1.8 – Shutter: 1/9 – Program: Normal – Exp. Comp.: 0.0,
Original digital capture of a real life scene –
Original file size: 3024px x 4032px
Location: Abra144 (Presidente Figueiredo – Amazonas Brazil)
Date: March 12, 2018 – Time: 4:43:30 PM
Collection: Feline Monitoring – Persons shown: Biologist
Keywords:
felinos, cats, felids, Felinae, mamíferos, mammals, FAUNA, animals, Abra144, Presidente Figueiredo, Amazonas, Amazônia, Amazon, Amazonian, Brazil, Brasil, Brazilian, América do Sul, South America, monitoramento da fauna, fauna monitoring, Grade144, Grid144, PESQUISA, RESEARCH
EN(Digital) installing camera IP08_4036
PT(Digital) Instalando câmera IP08_4036
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IP08_4517
Checando a câmera
A cada quinze dias as câmeras são retiradas para verificar as «capturas» e trocar o chip. Eloise, a voluntária do projeto, está checando o equipamento e uma turista participa do monitoramento.
A interação entre ecoturismo e monitoramento foi muito proveitosa, oferecendo aos visitantes uma vivência extraordinária da floresta, desde a escalada em árvores até uma leitura guiada do ecossistema (importância dos fungos, excursões diurnas e noturnas, acampamentos na natureza, observação de aves, etc.)
IP08_4517 – Leonide Principe
Equipment: iPhone 7 with lens iPhone 7 back camera 3.99mm f/1.8 set at 4.0 mm – Exposition: ISO: 40 – Aperture: 1.8 – Shutter: 1/24 – Program: Normal – Exp. Comp.: 0.0,
Original digital capture of a real life scene –
Original file size: 4032px x 3024px
Location: Abra144 (Presidente Figueiredo – Amazonas Brazil)
Date: May 2, 2018 – Time: 10:40:41 AM
Collection: Feline Monitoring – Persons shown: Turist and biologist
Keywords:
felinos, cats, felids, Felinae, mamíferos, mammals, FAUNA, animals, Abra144, Presidente Figueiredo, Amazonas, Amazônia, Amazon, Amazonian, Brazil, Brasil, Brazilian, América do Sul, South America, monitoramento da fauna, fauna monitoring, Grade144, Grid144, PESQUISA, RESEARCH
EN(Digital) Checking the camera IP08_4517
PT(Digital) Checando a câmera IP08_4517
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Versão 1.2 – Texto revisado
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